Hoje já existem dados suficientes para sabermos qual a verdade que existe por trás de algumas notícias que estão circulam e correlacionam o coronavírus e a cannabis. Afinal, sempre que surge um assunto inédito e relevante, ele espalha-se rapidamente e há pouco tempo hábil de checar a sua veracidade.
Em linhas gerais, dois temas têm frequentado os noticiários: 1. O fumo da cannabis, seja em sua utilização como medicamento, seja como recreação, pode representar uma ameaça a seus usuários? 2. O uso da cannabis pode fortalecer ou enfraquecer o sistema imunológico?
1# Fumar Aumenta a Suscetibilidade dos Pulmões a Complicações Causadas pelo COVID-19?
Em um artigo recente, o pneumologista Dr. Albert Rizzo, diretor médico da American Lung Association, afirmou: “aquele que fuma apresenta um certo nível de inflamação das vias aéreas; caso o fumante seja contaminado, estará agregando uma infecção a essa inflamação ”. Em outras palavras, sim, há de fato maior chance de fumantes sofrerem complicações por causa do coronavírus.
Já de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o fumo de tabaco ou do narguilé “pode aumentar o risco de sintomas graves devido ao COVID-19”. E, embora a fumaça da maconha seja diferente da do tabaco, há motivos para se presumir que, se a do tabaco pode aumentar os riscos de complicações, provavelmente qualquer outra fumaça fará o mesmo.
Tentemos, no entanto, analisar analisar essas constatações mais profundamente, uma vez que as pesquisas mostram que a fumaça da cannabis pode provocar outros efeitos, bem diferentes dos abordados nessas notícias.
No Curto Prazo, a Cannabis Abre Vias Aéreas
Estudos acadêmicos recentes revelaram que o consumo prolongado de maconha está “associado ao aumento dos sintomas respiratórios, incluindo tosse, catarro e chiado no peito”. Por outro lado, também revelaram que o uso da planta pode, no curto prazo, abrir as vias aéreas, e que não há fortes evidências de que seu consumo, no longo prazo, cause obstrução do fluxo aéreo.
Isso obviamente não invalida a cautela com o fumo da cannabis. Quem está preocupado com sua saúde pulmonar, o que é especialmente legítimo durante a pandemia de coronavírus, deve evitar fumar qualquer tipo de substância.
Nessa hora, é importante lembrar que o fumo não é, de forma alguma, a única forma de consumir cannabis. De comestíveis a tópicos, vaporizadores, tinturas e comprimidos, há diversas opções para quem quer usá-la.
2# A Cannabis Enfraquece o Sistema Imunológico?
Aqui, se faz necessária uma explicação mais longa.
Sabemos o sistema endocanabinoide está relacionado à regulação do sistema imunológico. Os potenciais efeitos anti-inflamatórios da cannabis ajudaram a tornar a planta popular entre aqueles que sofrem de doença de Crohn e doença celíaca, por exemplo.
São justamente esses efeitos que levam médicos e especialistas em saúde pública a questionar se a cannabis possa deixar alguns usuários mais vulneráveis a certas doenças infecciosas.
Um estudo de 2017 apontou que “a cannabis modula negativamente sinais inflamatórios em imunócitos”, e que experimentos confirmaram que esse efeito é devido ao THC. No entanto, o estudo também descobriu que, no caso de dois dos pacientes examinados, a exposição prolongada à cannabis “resultou na reversão desse efeito”.
Outras pesquisas foram menos conclusivas. Um estudo de 1989 não encontrou “alterações endócrinas e imunológicas” como resultado da ingestão de THC. O estudo também descobriu que, quando os indivíduos foram agrupados “de acordo com seu histórico com THC”, não foram observadas diferenças nos testes de função imunológica.
Conclui-se, portanto, que as pesquisas clínicas sobre o THC não conseguiram determinar inequivocamente que a cannabis enfraquece o sistema imunológico nem que o torna mais suscetível à infecção por coronavírus. Vale lembrar que neste momento estão sendo realizados diversos ensaios clínicos para entender se os efeitos anti-inflamatórios da cannabis poderiam ajudar a combater o COVID-19.
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