Bruno Di Maulo, 33 anos, sempre foi um cara agitado. “Sou hiperativo desde a infância”, conta ele, que trabalha na área de Growth Marketing de uma empresa de marketing online, em São Paulo.
Segundo Bruno, a ansiedade sempre fez parte de sua vida, com os sintomas comuns a ela: agitação, falta de concentração, dificuldades de sono. No entanto, após uma separação dolorosa há três anos, o quadro juntou-se à depressão. O que aconteceu em seguida, e que o conduziu até a cannabis medicinal – mais especificamente ao óleo de CBD, o qual usa desde janeiro de 2019 –, você confere a seguir.
O que é ser “hiperativo desde criança”, como você se definiu?
Sempre fui aquele tipo clássico, que não consegue ficar parado por muito tempo e fala sem parar. Quando você é hiperativo, a cabeça não descansa um minuto e você está sempre fazendo mil coisas ao mesmo tempo.
Cursei Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). No entanto, construir maquetes ou desenvolver desenhos e projetos – o que me obrigava a ficar sentados por horas – era extremamente difícil para mim.
Daí você, hiperativo, entra no mercado de trabalho e isso começa a atrapalhar sua vida profissional. Você está no escritório, faz parte de uma equipe e, assim, precisa operar na mesma sintonia que seus colegas. Quando tem pela frente uma tarefa importante, precisa cumprir em uma ordem determinada. Mas era difícil: eu ficava muito ansioso, começava 10 coisas simultaneamente e não terminava nenhuma. E isso me desorganizava.
As pessoas ao seu redor percebiam a sua inquietação?
Claro. No trabalho, isso é ainda mais prejudicial. O tempo inteiro eu saía da minha mesa, ia pegar um café, saía para fumar, voltava pro meu lugar. Fazia um esforço louco para me controlar. Sabe como é: logo as pessoas começam a comentar coisas do tipo “o cara não consegue trabalhar”.
Quando a depressão se juntou ao quadro de ansiedade?
Fui casado e nos separamos. Procurei um médico assim que percebi que não estava legal de cabeça. Tentamos duas medicações diferentes: Fluoxetina e Topiramato, cada uma por cerca de três meses. Nos dois casos, eu sentia o efeito do remédio, que me ajudava em parte com a depressão. Mas, talvez por eu ser muito sensível, não sei, me sentia dopado. Não me sentia a mesma pessoa. Perdi a libido e o prazer de viver. Também me faltava apetite, pois o remédio tirava completamente minha fome. Até tomei vitamina B para tentar corrigir o problema, mas não funcionou. Naquela época, eu pesava 10 quilos a menos do que peso hoje em dia. Sinto que, ao mesmo tempo em que essas drogas serviam para controlar minha depressão, elas faziam com que eu fosse uma outra pessoa. Por isso parei de tomar.
O que aconteceu em seguida?
Durante os dois anos seguintes, não adotei nenhuma medicação. Comecei a frequentar a academia, pois sabe-se que o exercício físico ajuda a combater a ansiedade e a depressão. Foi por causa do esporte que fiquei sabendo sobre o óleo de CBD – certo dia, vi uma atleta de artes marciais publicar em sua rede social que tomava esse óleo porque ele tinha efeito anti-inflamatório e, assim, a ajudava a recuperar os músculos após o treino. Nunca tinha ouvido falar e fui pesquisar.
E descobriu que…
Que o óleo de CBD também ajuda a tratar a ansiedade, a depressão e a dormir melhor. Sempre tive os dois problemas. Minhas insônias eram provocadas pelo fato de que eu, à noite, não conseguia desligar a cabeça. Decidi tentar. Fui a uma médica que me ajudou a conseguir a autorização da Anvisa. Sem isso, eu não poderia importar. Como eu já havia acumulado um histórico de tentativas com outros medicamentos e, assim, não foi difícil obtê-la.
Eu, assim como quase todos que eu conheço, não sabia nada a respeito de cannabis medicinal, ou maconha medicinal, como se diz por aqui. Fumei maconha na época da faculdade, mas faz pelo menos 10 anos que não fumo, pois ela prejudicava meu sono e me deixava improdutivo. Já com o CBD isolado, sinto só os benefícios da planta, sem nenhum efeito colateral, inclusive porque meu óleo não contém THC, o elemento da cannabis que provoca reações psicoativas. Quase ninguém sabe disso por aqui.
Como foi definida a posologia do óleo de CBD?
Cada pessoa tem que encontrar sua própria dose. Assim, minha médica me instruiu a começar com 0,1 ml* e aumentar lentamente para eu poder acompanhar minha reação. Depois de algumas semanas passei 0,2 ml por dia, depois 0,3 ml. Nessa dose, comecei a me sentir bem. Daí fui para 0,4 ml e percebi que não havia nenhuma alteração, e voltei para o 0,3. O óleo tem um gosto amarguinho: recolho a dosagem com uma seringa e coloco sob a língua, esperando 10 minutos antes de engolir. Li que esta é a forma que provê a melhor absorção.
A princípio, tomava à noite antes de ir dormir, e me sentia muito bem. Daí decidi experimentar tomar a cannabis de manhã, e percebi que ele provocava os mesmos efeitos benéficos, reduzindo a ansiedade, dos quais passei a usufruir ao longo do dia. Tornei-me menos ansioso, mais relaxado e portanto mais focado. Isso sem contar com o benefício da recuperação pós-academia, o qual me fez chegar à cannabis medicinal: ela de fato ajuda a recuperar os músculos, pois tem efeito anti-inflamatório.
Ao usar o óleo de CBD para a ansiedade, sentiu alguma alteração de personalidade?
Não, nenhuma alteração mental. A única coisa que sinto é que fico relaxado, mais centrado, mais calmo. Meu único “porém” é com o preço: pago 400 euros por frasco de 30 ml, o qual dura dois meses. Muito caro.
Você precisa fazer visitas periódicas à médica que receitou o CBD?
Não. Ela está à disposição e me ajudou acompanhando o aumento das doses. Mas não preciso voltar a ela. Só o farei caso precise renovar minha autorização de importação, que tem prazo de validade, ou caso haja alguma intercorrência.
Entre seus amigos, há alguém que se trata com óleo de CBD? Sente que há preconceito?
Preconceito não, principalmente no meio em que vivo. No entanto, há muita desinformação. Quando comentei com algumas pessoas, vi que não sabiam do que eu estava falando. Na mídia brasileira, quando falam sobre cannabis medicinal, a citam apenas como remédio para epilepsia. Vejo que há sempre reportagens sobre o assunto, mas nunca falam de todos os outros possíveis benefícios. Por conta disso, pouco sabem que é algo que pode ser usado para o bem-estar, para controlar ansiedade ou como anti-inflamatório, o que é superbom para o corpo. Ainda é um tema que só circula boca a boca. Até mesmo minha terapeuta não sabia o que era ou como funcionava.
Como você se sente atualmente?
Percebo que o CBD, o esporte e a terapia combinadas me ajudam a manter o foco. Minha produtividade aumentou na medida em que a ansiedade diminuiu. Sinto uma grande diferença principalmente à noite, pois chego em casa e estou relaxado. Isso também é um atributo do CBD e do esporte. Antes, eu não conseguia adormecer antes da meia-noite; depois de um dia tenso de trabalho, não dormia de forma alguma. Hoje, adormecer é fácil. E, quando sinto que poderei ter dificuldade para pegar no sono, tomo um pouquinho mais de CBD. E pronto.
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