Quase um em cada três adultos nos Estados Unidos lida com a insônia aguda; cerca de 10% da população enfrentam diferentes distúrbios crônicos do sono.
Muitos recorrem a diferentes artifícios para lidar com a situação, desde remédios para dormir até melatonina. À medida que a Cannabis se torna acessível em mais estados e países, também vai se consolidando como alternativa, cada vez mais popular.
Diversos estudos mostram que a cannabis pode de fato ajudar pessoas com problemas de sono, mas não há consenso científico sobre sua eficácia ou mesmo um entendimento completo de exatamente como ela afeta nossa rotina de sono.
Uma razão pela qual cientistas e médicos ainda têm tantas perguntas sobre a relação entre a planta e o sono está em nosso entendimento incipiente sobre o sistema endocanabinoide (SE), a rede de neurotransmissores do corpo que ajuda a regular inúmeras funções, incluindo a estabilidade do sono. Os cientistas sequer sabiam sobre o SE até o final dos anos 1980.
Isso, juntamente com as proibições de longa data da pesquisa sobre a cannabis para uso medicinal, faz com que a afirmação mais recorrente da ciência sobre a influência da cannabis sobre a condição do sono é: “depende”.
O que a Ciência Pode (e Não Pode) nos Dizer
Um estudo de 2017 dos efeitos da cannabis sobre o sono, a saúde e a segurança no local de trabalho concluiu que é improvável que estudos de laboratório “reflitam as experiências dos usuários em relação ao sono e ao uso de cannabis nos dias atuais” devido aos inúmeros fatores que afetam a experiência individual.
Estudos sobre métodos de consumo específicos, como por meio de vaporização e de dabbing (por meio da utilização do bong, uma espécie de cachimbo de água), são particularmente escassos, observou o estudo, e a taxa de absorção e a biodisponibilidade dependem justamente do método de consumo. Nos anos posteriores à publicação do estudo, poucas revelações foram feitas.
Mas isso não significa que não há dados disponíveis.
Embora não existam muitos estudos científicos que analisem diretamente a relação entre o sono e a cannabis, existem diversos que a notaram. Tais resultados auxiliares são frequentemente encontrados em estudos sobre controle da dor e outras condições em que a cannabis está sendo pesquisada como alternativa de tratamento. Isso é de imenso valor, porque a insônia geralmente é um sintoma de outra condição que pode ser tratada com a cannabis.
Uma pesquisa de 2010 com 21 pacientes que sofriam de dor neuropática crônica constatou que eles experimentaram “melhora significativa” ao consumir três doses diárias de 25 mg de cannabis com 9,4% de THC.
Outros estudos tiveram resultados menos animadores. Um deles, de 2008, descobriu que cepas com mais THC podem diminuir o tempo total de sono REM. Outro mais recente, de 2015, apontou que o uso regular de cannabis pode, na realidade, prejudicar o sono.
Um estudo de 2014 da Universidade de Glasgow sobre dor crônica abrangeu um grupo de 246 pacientes no qual, em lugar da flor de cannabis defumada, os pesquisadores utilizaram um spray sublingual de THC / CBD. O estudo duplo-cego e controlado com placebo durou 15 semanas. Como resultado, os pesquisadores descobriram que “um número significativo de pacientes resistentes a outras formas de tratamento” experimentou melhorias na qualidade do sono.
Um estudo de 2006, com pacientes com artrite reumatóide e usuários de cannabis, descobriu que o medicamento Sativex, formulado com a planta, melhorava seu sono. Dados de uma pesquisa aberta de 2014, com 22 pacientes, indicaram que a cannabis também pode melhorar o sono em pacientes com Mal de Parkinson.
A epilepsia é outra condição em que a cannabis, segundo relatos, foi capaz de ajudar os pacientes. Um estudo utilizando a planta em 190 adultos epilépticos apontou que 75% do grupo de pacientes experimentaram uma melhora significativa no sono.
Um estudo aberto de 2014 com 104 homens que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) concluiu que o medicamento Nabilone, derivado da cannabis, reduz pesadelos e outros sofrimentos nos pacientes. “Este estudo sustenta a promessa da nabilona como um tratamento seguro e eficaz para distúrbios paralelos em populações carcerárias com doenças mentais graves”, apontaram os pesquisadores.
Escolhendo os Canabinoides Certos para Você
THC e CBD são apenas dois dos pelo menos 140 canabinoides existentes na cannabis. Cada um age de forma diferente no corpo humano: o THC e o CBD, por exemplo, agem de forma semelhante, mas apenas o segundo provoca efeitos psicotrópicos.
Um estudo de 2017 sobre canabinoides e distúrbios específicos do sono analisou dois estudos em animais usando o CBD para determinar seus efeitos na qualidade do sono e no ciclo vigília-sono. Um dos estudos descobriu que uma dose mais alta de CBD aumentou a latência do sono REM (rapid eye movement – movimento rápido dos olhos) ou o tempo necessário para adormecer. Este efeito ocorre apesar de a cannabis apresentar o potencial de levar as pessoas a um sono mais profundo.
Outro estudo de CBD em animais apresentou a diminuição na supressão do sono REM causado pela ansiedade. Esse efeito foi creditado ao fato do CBD bloquear tais reações, sem afetar o movimento não rápido dos olhos (NREM) ou o sono sem sonhos. O relatório também citou várias descobertas que sugerem que CBD e THC combinados podem ser úteis, enquanto o THC sozinho, assim como os sintéticos, diminui a latência do sono.
Potenciais Efeitos Colaterais
A maioria dos estudos e achados empíricos sugerem que o CBD apresenta pouco ou nenhum efeito colateral adverso em pacientes com problemas de sono. Com exceção de um pequeno número de casos, geralmente com uso de altas doses, a maioria das pessoas parece responder bem ao CBD.
Uma série de casos de 2019 com foco no efeito do CBD na ansiedade e no sono mostrou que este canabinoide foi “bem tolerado” entre 72 adultos com distúrbios de ansiedade. No total, dois pacientes deixaram o estudo após uma semana, relatando fadiga. Outro paciente relatou olhos secos, um efeito colateral comum no consumo de THC. Um paciente com um distúrbio do desenvolvimento foi removido do estudo após apresentar aumento de comportamento sexual inapropriado.
Um estudo de 2018 sobre a relação entre insônia e flor de cannabis para uso medicinal analisou 1.056 questionários auto-administrados de 409 pacientes usando o ReleafApp. Em 57% dos casos, os usuários relataram um ou mais efeitos colaterais adversos. Por outro lado, 95% relataram pelo menos um efeito colateral positivo. O estudo observou que os consumidores usavam uma variedade de cepas de cannabis com potências diferentes de THC e CBD.
Na maioria dos casos, os efeitos colaterais adversos se assemelhavam aos do consumo de THC, como olhos secos. Outro efeito colateral comum foi a fadiga, que neste caso, é o efeito desejado.
Efeitos colaterais adversos também podem ocorrer ao combinar a cannabis com outros medicamentos, ervas, suplementos e alimentos. A Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA publicou uma extensa lista de possíveis interações com o CBD. A instituição também listou uma série de condições e sintomas médicos para os quais indicou-se o CBD, ressaltando que evidências insuficientes tornam impossível avaliar sua eficácia nesse momento.
“Pesquisas anteriores sugerem que tomar 160 mg de canabidiol antes de dormir melhora o tempo de sono em pessoas com insônia. No entanto, doses mais baixas não têm esse efeito”, afirmou o relatório, referindo-se à natureza bifásica da cannabis. “O canabidiol também não parece ajudar as pessoas a adormecer, e pode reduzir a capacidade de recordar sonhos”, acrescentou o relatório.
Conclusão
A cannabis apresenta potencial para tratar diversos problemas de sono dos pacientes. Seja um distúrbio do sono em si ou o sintoma de outra condição clínica, a cannabis parece ajudar dezenas de pessoas a adormecer mais facilmente.
Depois de tudo isso dito, torna-se claro que a cannabis não é uma solução adequada a todos os pacientes. Como alguns estudos sugerem, o tipo de canabinoide consumido pode alterar drasticamente o resultado. O CBD parece, no entanto, ser o canabinoide mais recomendado, geralmente associado ao entorpecente THC.
Vários outros fatores, desde variedade, método de consumo, dose e até mesmo metabolismo, também podem influenciar a maneira como você reage à cannabis para uso medicinal. Por isso, consulte o seu médico antes de usá-la para tratar distúrbios do sono.
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