Um estudo prospectivo publicado recentemente apontou que o uso de cannabis por vários meses está associado a uma redução significativa da pressão arterial entre adultos mais velhos com hipertensão.
Os pesquisadores fizeram leituras em 26 pacientes com mais de 60 anos, três meses antes e três meses depois de começarem a usar cannabis medicinal, e descobriram que a pressão arterial geral dos participantes – tanto sistólica quanto diastólica – baixou ligeiramente após três meses de tratamento com cannabis. Tão importante quanto, um em cada cinco participantes do estudo, que foi publicado no European Journal of Internal Medicine, observou melhorias significativas na pressão arterial noturna.
“As diferenças médias nas pressões sanguíneas sistólica e diastólica de 24 horas foram de 5,0 mmHg e 4,5 mmHg, respectivamente”, escreveram os pesquisadores.
Essa redução na pressão arterial é significativa, disse o pesquisador Dr. Ran Abuhasira ao The Cannigma. Não é uma redução suficiente para que possa ser considerada como um tratamento para a hipertensão por si só, explicou ele, “mas sim algo a considerar enquanto revisamos todos os medicamentos que os adultos mais velhos estão tomando antes de prescrever a eles a cannabis”.
Outra descoberta do estudo foi que a proporção de pessoas cuja pressão arterial cai durante à noite em comparação com o dia (chamadas em inglês de “dippers”), a qual aumentou de 27,3%, antes do tratamento, para 45,5% após o tratamento.
Pacientes com queda reduzida ou cuja pressão arterial aumenta à noite apresentam risco aumentado de complicações cardiovasculares, afirmou Dr. Abuhasira. “Portanto, um maior percentual de dippers é melhor, sugerindo pressão arterial equilibrada e risco cardiovascular reduzido do ponto de vista da hipertensão”, observando, entretanto, que essas são apenas suposições e extrapolações.
A equipe de seis pesquisadores israelenses se propôs a avaliar os efeitos de médio prazo da cannabis na hipertensão e na pressão arterial, na frequência cardíaca, no eletrocardiograma (ECG) e nos parâmetros metabólicos.
Pesquisas anteriores mostraram que o sistema endocanabinoide desempenha um papel na regulação da atividade cardiovascular. Em estudos com animais, os pesquisadores notaram que a ativação do sistema endocanabinoide pode causar mudanças significativas na frequência cardíaca, constrição dos vasos sanguíneos, inflamação, oxidação e pressão arterial – tanto aumentando quanto diminuindo a pressão arterial em diferentes contextos.
Nenhuma Relação entre THC, Níveis de CBD e Alteração da Pressão Arterial
O estudo atual não encontrou nenhuma evidência de uma relação dependente da dose entre CBD ou THC e pressão arterial. Os pesquisadores também postularam que, como a dor crônica está associada à hipertensão, as propriedades analgésicas da cannabis poderiam explicar a redução da pressão arterial entre a maioria dos participantes.
Mais de 75% dos participantes usaram óleo de cannabis e apenas 15% fumaram a erva. A média da dose diária de THC e CBD foi de 21,1 mg e 21,3 mg, respectivamente. Aproximadamente um terço dos participantes usou cannabis uma vez por dia, outro terço relatou uso de cannabis duas vezes por dia e outro terço mais de três vezes por dia.
Os participantes receberam uma avaliação inicial incluindo monitoramento ambulatorial da pressão arterial (MAPA) de 24 horas, ECG, exames de sangue, medidas antropométricas, dados demográficos e histórico médico. Três meses depois, cada participante recebeu uma avaliação de acompanhamento que analisou as mesmas medidas.
Embora tenha havido uma redução na pressão arterial sistólica e diastólica, não houve alterações significativas nos lipídios do sangue, HbA1C, insulina de jejum, proteína C reativa, testes de função renal, eletrólitos, medidas antropométricas ou parâmetros de ECG.
Funciona para Quem Não se Trata com Medicamentos?
Os pesquisadores também esclareceram que, como grande parte dos participantes já estava tratando sua hipertensão, eles tinham valores de pressão arterial normais ou quase normais. “Não se sabe se este efeito da cannabis sobre a pressão arterial será o mesmo com valores substancialmente elevados de pressão arterial”, escreveram os pesquisadores. Em outras palavras, não se sabe se a cannabis baixaria a pressão arterial na mesma medida em um paciente hipertenso que não era já não está medicado.
O estudo foi limitado de outras maneiras também. Não havia grupo de controle nem medições dos níveis reais de THC, CBD ou outras substâncias nos participantes. O tamanho da amostra do estudo pode ter sido inadequado para avaliar arritmias cardíacas e alterações nos parâmetros metabólicos, observaram os pesquisadores. Finalmente, nem todos os participantes usaram os mesmos tipos, doses ou formulações de cannabis. Mais pesquisas serão necessárias para expandir os resultados deste estudo.
Resultados Contraditórios de Diferentes Estudos
Embora alguns estudos tenham indicado que o uso de cannabis pode ser uma forma útil de reduzir a pressão arterial e tratar condições como a hipertensão, outras pesquisas chegaram a resultados conflitantes, o que poderia ser um fator de risco para pressão alta e hipertensão.
Uma revisão de 2008 da literatura existente descobriu que o uso crônico de cannabis estava relacionado à redução da pressão arterial e da frequência cardíaca em geral.
Pesquisas que focaram especificamente no CBD, embora limitadas, sugerem que ele pode reduzir a pressão arterial diretamente e reduzir o estresse que pode causar aumentos na pressão arterial. Alguns pesquisadores até sugeriram que o CBD pode ser útil no tratamento da hipertensão.
Outros estudos chegaram a conclusões totalmente diferentes. Um alarmante, embora limitado, estudo de 2017 descobriu que “o uso de maconha pode aumentar o risco de mortalidade por hipertensão”.
Uma revisão sistemática da pesquisa de 2012 afirmou que o “aumento do esforço cardíaco, níveis elevados de catecolamina e carboxi-hemoglobina no sangue, bem como a ocorrência de hipotensão postural, estão entre os fatores de doença cardiovascular mais comumente relatados associados à intoxicação por cannabis”.
O estudo publicado na semana passada também cita uma declaração científica divulgada pela American Health Association em agosto de 2020, que relatou que “muitas das implicações preocupantes da cannabis para a saúde incluem doenças cardiovasculares”. Como a polimedicação é mais comum entre adultos mais velhos, há um maior potencial de interações medicamentosas com a cannabis.
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