Embora o CBD (canabidiol) tenha demonstrado potencial eficácia no tratamento de uma série de problemas de saúde – e até mesmo de vícios –, não é uma ferramenta eficaz para o alívio da abstinência de crack e cocaína, segundo ensaio recente realizado no Brasil.
Cada um dos participantes do estudo recebeu 150 mg de CBD duas vezes ao dia ou um placebo, ao longo de 10 dias. Todos apresentavam diagnóstico de dependência de crack. Durante este período, os pesquisadores avaliaram a fissura (“craving”) pela droga e a intensidade de seus sintomas de abstinência.
O que eles encontraram após 10 dias? “Apesar da excelente segurança e tolerabilidade, o CBD falhou em demonstrar eficácia no tratamento da fissura em indivíduos com dependência de crack.”
Os níveis de desejo caíram significativamente para todos os participantes durante o ensaio de controle randomizado de 10 dias, escreveram os pesquisadores. Todavia, não se observaram diferenças entre os indivíduos que receberam CBD e os que ingeriram placebo.
Eles também afirmaram que não observaram diferenças nos níveis de ansiedade, depressão e sono entre os dois grupos.
Diferentes Questionários para Avaliar a Relação Entre CBD, Crack e Heroína
Os pesquisadores usaram diferentes tipos de questionários, entre eles o Questionário de Fissura de Cocaína de 45 Perguntas, a Escala de Fissura de Cocaína de Minnesota, as Escalas de Sono Análogas (para autoavaliar seu sono), além da Escala de Avaliação de Efeitos Colaterais UKU. Os comprimidos fornecidos continham 99,9% de CBD puro em cápsulas de gelatina.
Para induzir a fissura, os cientistas exibiram um vídeo mostrando locais conhecidos pelo uso indiscriminado de drogas. Fora isso, exibiram imagens de pessoas fumando crack ou manuseando e preparando a droga.
O estudo contou com uma limitação potencial: todos os indivíduos estavam abstêmios do crack entre oito e 30 dias no momento em que o estudo começou. Além disso, levou-se em consideração o curto período de tratamento – apenas 10 dias – e as dosagens relativamente baixas de CBD utilizadas pelos participantes.
Os pesquisadores mencionaram estudos anteriores envolvendo doses maiores de CBD, incluindo um que administrou doses de 400 ou 800 mg por três dias e concluiu que “o potencial do CBD para reduzir o desejo e a ansiedade induzidos por estímulos fornece uma base forte para uma investigação mais aprofundada deste fitocananabinoide como opção de tratamento para distúrbios relacionados ao uso de opioides.”
Outro estudo mencionado pelos pesquisadores apontou que doses de 400 mg e 800 mg de CBD “eram seguras e mais eficazes do que o placebo na redução do uso de cannabis”. Os participantes do teste eram usuários de crack há pelo menos 12 anos. Não apenas isso: a maioria utilizava a droga mais de cinco vezes por semana.
A Pergunta Central: Por Que Analisar a Relação CBD, Crack e Heroína?
Vale perguntar: por que os pesquisadores desconfiaram que o CBD poderia ser um tratamento potencial para a dependência do crack?
Conforme os próprios escreveram, “diferentes estudos sugeriram que os agonistas dos receptores canabinoides CB1 aumentam a descarga de neurônios dopaminérgicos na área tegmental ventral. Estes se projetam para o nucleus accumbens, levando a um aumento nos níveis de dopamina extracelular nesta estrutura”.
Ou, em outras palavras, estudos sugeriram que o CBD pode ser útil no tratamento do vício. Isso acontece pois está envolvido na modulação de mecanismos cerebrais relacionados a ele e a comportamentos compulsivos de busca por drogas. Talvez o crack seja uma exceção entre elas.
Outro estudo brasileiro, realizado em 2015, analisou os efeitos da combinação de crack e maconha. Segundo ele, “o uso combinado de cannabis como estratégia para reduzir os efeitos do crack apresentou várias vantagens importantes, principalmente uma melhoria na qualidade de vida, que ‘protegeu’ os usuários da violência típica da cultura do crack”.
Um estudo canadense de 2017 analisou o uso intencional de cannabis para reduzir o consumo de crack entre pessoas usuárias de drogas ilegais. Eles descobriram que “um período de uso intencional de cannabis para reduzir o consumo de crack está associado à diminuição da frequência do uso de crack entre pessoas que usam drogas ilícitas”.
Posteriormente, um estudo lançou uma declaração conflitante: a pesquisa anterior, da University of British Columbia, teria sido financiada por um produtor de cannabis medicinal.
Embora os pesquisadores não o tenham mencionado, um estudo de 2006 revelou que os viciados em cocaína que sofrem de TDHA, os quais estão em recuperação e são usuários moderados ou ocasionais de cannabis “tiveram maiores taxas de retenção em comparação com abstêmios e usuários constantes”.
CBD Como Apoio ao Tratamento do Vício
Apesar de este estudo mais recente realizado no Brasil não ter descoberto que o CBD poderia ajudar a aliviar a abstinência do crack, há evidências de que a maconha pode ser eficaz no tratamento da dependência em si.
Estudos demonstraram que a cannabis pode ajudar a aliviar os sintomas de abstinência de opioides, resultando em maiores taxas de sucesso na recuperação. Ao mesmo tempo, outra pesquisa chegou à conclusão oposta: de que a cannabis poderia tornar esses sintomas de abstinência mais graves.
Um estudo publicado em maio de 2019 descobriu que altas doses de CBD ajudaram os pacientes a lidar com a abstinência de heroína. Eles concluíram que “o potencial do CBD para reduzir a fissura e a ansiedade induzidos por estímulos fornece uma base forte para uma investigação mais aprofundada deste fitocanabinoide como uma opção de tratamento para o transtorno do uso de opioides.”
Outra pesquisa encontrou evidências de que a cannabis pode ajudar no tratamento do tabagismo e do álcool.
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