A pesquisa sobre a cannabis decolou nos últimos anos, à medida que ações regulatórias e médicas começaram a mudar em relação a ela. No passado, foi realmente difícil realizar pesquisas científicas e clínicas sobre a planta e concluir quais seus benefícios para a saúde.
É quase impossível acompanhar o enorme volume de novas informações e conhecimentos científicos publicados hoje em dia. Muitos desses desenvolvimentos e caminhos podem, potencialmente, mudar o jogo no caso de várias doenças. Outros são simplesmente fascinantes.
Como você provavelmente não anda pesquisando revistas médicas, decidimos fazer isso em seu lugar. A seguir, confira cinco dos mais fascinantes e atraentes artigos de pesquisa publicados sobre cannabis de uso medicinal que vimos recentemente.
Os Usuários de Cannabis Têm Menos Probabilidade de Ganhar Peso?
Os resultados de um estudo nacional de três anos se inclinam nesta direção. As evidências de um estudo da Universidade do Estado de Michigan (MSU, em inglês) sugerem que os adultos que fumam cannabis pesam menos do que aqueles que não. As descobertas, publicadas no International Journal of Epidemiology (Jornal Internacional de Epidemiologia), desafiam a antiga crença de que os usuários de cannabis ganham peso devido ao efeito colateral de indução da fome, comumente conhecido como “larica”. O estudo sugere que usuários novos e persistentes têm menor probabilidade de estar acima do peso ou de serem obesos.
A importante autora e pesquisadora Omayma Alshaarawy, professora-assistente de Medicina da Família na MSU, e sua equipe descobriram que, embora a diferença de peso entre usuários e não-usuários de cannabis seja pequena (cerca de 1 quilo para um participante de 1,70 m pesando cerca de 100 kg), a variação foi prevalente em todo a amostra. “E apenas 15% dos usuários persistentes foram considerados obesos, em comparação com 20% dos não usuários”, afirmou ela em entrevista. Então, o que há na cannabis que parece afetar o peso? Para simplificar, Alshaarawy disse que o seu uso pode modificar a maneira como certas células e receptores endocanabinoides respondem no corpo, influenciando o metabolismo e o ganho de peso.
A conclusão: mais pesquisas precisam ser feitas, já que o uso da cannabis afeta homens e mulheres de maneira diferente, a dosagem pode variar e diferentes proporções de THC / CBD devem ser consideradas. Por enquanto, a cannabis provavelmente não deve ser considerada como elemento de apoio a dietas.
Sensação de High de Corredores Vinculada a Receptores Canabinoides
Durante décadas, acreditava-se que a liberação de endorfina induzida pelo exercício era a responsável pela sensação de high do corredor (aquele bem-estar que você experimenta após exercícios prolongados).
As endorfinas são moléculas muito grandes que não podem se mover facilmente do sangue para o cérebro, por isso é improvável que sejam as únicas responsáveis pelos sentimentos associados à sensação de “high” do corredor. Os cientistas acreditam que o efeito pode ser atribuído a outras substâncias químicas no corpo que produzem alívio da dor e felicidade semelhantes.
As evidências sugerem agora que os endocanabinoides podem desempenhar aqui um papel. Um estudo da Universidade de Heidelberg, publicado nos Proceedings of the National Academy of Science (Procedimentos da Academia Nacional de Ciências), mostra que os ratos que correm em uma roda aumentam sua produção de endocanabinoides e têm a ansiedade e a dor reduzidas. Particularmente, essa forma de exercício aumentou os níveis sanguíneos de β-endorfina (um opioide criado internamente e que reduz as mensagens dolorosas) e anandamida (um endocanabinoide endógeno, apelidado de molécula da felicidade, que melhora o estado emocional).
Em uma série de experimentos, a equipe conseguiu mostrar que a redução do comportamento semelhante à ansiedade após corridas de longa distância dependia de receptores nos neurônios do cérebro anterior, concentrados no bloqueio de certos sinais cerebrais (dor) e na diminuição dessa atividade no sistema nervoso. Esses receptores canabinoides são cruciais para a sensação de “high” de um corredor.
A Cannabis Pode Melhorar a Visão Noturna
Quinze anos atrás, uma equipe multidisciplinar internacional publicou suas conclusões no The Journal of Ethnopharmacology (O Jornal de Etnofarmacologia), observando que pescadores marroquinos e habitantes das montanhas tiveram sua visão noturna melhorada depois de fumar kif, uma mistura de cannabis Sativa com tabaco. Estudos de campo foram realizados com indivíduos antes e depois de fumarem kif. Melhorias na visão noturna foram observadas após o uso de THC ou cannabis. Acredita-se que esse efeito depende da dose e seja mediado por canabinoides no nível da retina. Por exemplo, um participante não viu alterações até que um decréscimo na sensibilidade fosse observado com 10 mg e mantido com 20 mg de THC por via oral, sugerindo um efeito dependente da dose. O estudo apoia as observações etnobotânicas anteriores.
Por que isso é importante? Os pesquisadores do estudo, liderados pelo Dr. Ethan Russo, esperam que mais testes possam encontrar uma possível aplicação clínica desses resultados na retinite pigmentosa, um distúrbio genético que causa cegueira e sintomas que incluem problemas na visão noturna e diminuição da visão periférica. Um estudo mais aprofundado seria capaz de revelar se essa poderia ser considerada uma nova aplicação clínica da cannabis, a exemplo do que já acontece com sua indicação para o tratamento da dor, a espasticidade da esclerose múltipla e a náusea da quimioterapia.
Cannabis Contra Enjoo Matinal?
Cada vez mais, jovens futuras mamães têm usado a cannabis para aliviar o enjoo da manhã – o que não significa que seja recomendada para as mulheres grávidas.
Muitas mulheres sentem náusea e/ou ânsia de vômito durante a gravidez, variando de leve a extrema. A cannabis (e em particular a Sativa) pode ser utilizada terapeuticamente para aliviar esses sintomas. Michael Smith, bolsista de pós-doutorado da Fundação para Pesquisa em Saúde do Departamento de Sociologia da Universidade de Victoria, Canadá, pesquisou 84 mulheres e a utilização que fazem da cannabis. Das 79 entrevistadas que passaram por uma gestação, 51 (65%) relataram usá-la durante a gravidez. Embora 59 (77%) das entrevistadas tenham experimentado náusea e / ou ânsia de vômito na gravidez, 40 (68%) usaram cannabis para tratar o problema e, destas, 37 (mais de 92%) classificaram a cannabis como “extremamente eficaz” ou “eficaz” para o problema.
A cannabis tem indicação médica aprovada para a náusea em alguns países onde o seu uso médico foi legalizado. No entanto, há geralmente diferenças entre a cannabis regulamentada e a do mercado ilegal. E, embora os resultados apontem para a necessidade de mais pesquisas sobre o uso de cannabis para náusea e vômito durante a gravidez, é importante ter em conta que a Associação Médica Americana declara que o uso da cannabis durante a gravidez não é seguro.
A Cannabis Como Neuroprotetor Após Traumatismo Cranioencefálico
Vários estudos analisaram os efeitos neuroprotetores dos canabinoides especialmente após eventos de traumatismo cranioencefálico (TCE). Em 2014, uma equipe de pesquisadores do Centro Médico Harbor-UCLA publicou resultados referentes à relação entre a presença de THC e a mortalidade após um TCE. A revisão de três anos dos dados concentrou-se em mais de 400 pacientes que, após a lesão, também passaram por um rastreio com exames de de toxicologia para detectar a presença de THC. O grupo de pacientes cujos relatórios de toxicologia apontaram THC em seu organismo no momento da lesão foi comparado com aqueles que tiveram resultado negativo – em relação ao mecanismo da lesão, sua gravidade, disposição e mortalidade. No grupo no qual foi apontada a presença de THC, a mortalidade foi significativamente menor quando comparada à do grupo de resultado negativo, associando assim a presença de THC à sobrevida após um TCE.
Outro estudo, na realidade uma análise de estudos pré-clínicos existentes, realizado em 2017, avaliou o potencial terapêutico dos canabinoides e das manipulações do sistema endocanabinoide para aliviar a patologia do TCE, incluindo o estudo acima mencionado. Além disso, a equipe analisou os déficits comportamentais induzidos pelo TCE que também respondem às manipulações do sistema endocanabinoide.
De acordo com a análise, as evidências sugerem que o THC funciona como neuroprotetor quando administrado antes de um TCE. Curiosamente, uma dose extraordinariamente baixa reduziu os déficits cognitivos induzidos por lesões em ratos. E, embora 80-90% do THC seja eliminado em até cinco dias após sua administração, os indivíduos puderam experimentar concentrações muito baixas de THC por períodos prolongados. Essa exposição prolongada, bem como outros canabinoides potencialmente neuroprotetores, como o CBD, pode ser responsável pelos efeitos de sobrevivência encontrados em pacientes com TCE que estiveram expostos à cannabis.
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