Visão Geral
A terapia convencional com esteroides, fármacos modificadores de doenças e drogas biológicas continua sendo a pedra angular do tratamento para pacientes com Doença de Crohn (DC). Infelizmente, nem todos os pacientes reagem a esses medicamentos: alguns desenvolvem efeitos colaterais graves, enquanto outros experimentam apenas remissão parcial, levando-os a buscar ansiosamente outras opções de tratamento.
Nos últimos anos, vem aumentando a pesquisa das possíveis propriedades terapêuticas da cannabis em pacientes com DC, trazendo resultados promissores e possibilitando aos pacientes um caminho para melhorar sua qualidade de vida.
Reduzir a inflamação gastrointestinal (IG) é crucial no tratamento da Doença de Crohn. Novas descobertas sobre o efeito do SE (Sistema Endocanabinoide) na inflamação gastrointestinal e na pesquisa clínica atual nos levam a concluir que a cannabis pode reduzir a IG e melhorar a qualidade de vida de pacientes com DC, embora sejam necessárias mais pesquisas clínicas para chegarmos a resultados mais claros e conclusivos.
A cannabis é recomendada para pacientes adultos com DC com o objetivo de aliviar a dor e os sintomas, e pode ser usada como tratamento suplementar a um custo relativamente baixo, com alto perfil de segurança e em sinergia com a terapia convencional para a redução da inflamação.
A cannabis não é recomendada para crianças, de acordo com a Associação Canadense de Gastroenterologia, devido a possíveis alterações estruturais do cérebro em desenvolvimento.
Prós
- Atua como analgésico: na terapia convencional, o tratamento da inflamação da DC pode levar tempo, exigindo o uso de analgésicos para alívio imediato da dor aguda.
- Náusea, inchaço e diarreia: a cannabis tem sido usada para aliviar muitos dos sintomas de que sofrem os pacientes de Crohn.
- Aumenta o apetite: pacientes com DC sofrem de diminuição do apetite, geralmente devido a náusea.
- Segurança: a cannabis é considerada segura. Efeitos adversos graves são raros e nunca houve fatalidades registradas diretamente relacionadas a seu uso.
- Custo: embora o custo da cannabis de uso medicinal varie de acordo com o país e a espécie, seu preço é geralmente inferior ao de medicamentos para DC, como as drogas biológicas, por exemplo. É importante ter em mente que, atualmente, a cannabis é usada como tratamento suplementar.
Contras
- Alteração da mente: a capacidade de resolução de problemas, a memória e o equilíbrio são comprometidos no curto prazo e, possivelmente, no longo prazo também.
- Doença pulmonar e das vias aéreas induzida por fumo: qualquer tipo de fumo traz danos ao pulmão, traqueia e boca. Isso pode ser evitado usando outras formas de apresentação que não sejam o fumo, como produtos comestíveis ou óleos.
- O risco de ataque cardíaco, tosse crônica e transtornos mentais é aumentado.
- Possível dependência: o uso crônico e intensivo de cannabis pode levar ao vício e à dependência.
O Sistema Endocanabinoide
O Sistema Endocanabinoide (SE) é composto por canabinoides, seus receptores e certas enzimas metabólicas. Ele participa de inúmeros processos biológicos e é um elemento importante na regulação de diferentes funções corporais, como a atividade cerebral normal, sono e digestão, entre outros.
O SE é um coadjuvante importante na regulação do trato gastrointestinal (GI), desde o simples controle da taxa de digestão às interações complexas com a flora intestinal e as células do sistema imunológico. A parede do trato gastrointestinal está saturada de receptores de canabinoides, e agora sabemos que muitos distúrbios gastrointestinais estão ligados à desregulação do SE, na maioria das vezes associada a uma redução nos endocanabinoides.
A capacidade do SE de interagir com o microbioma intestinal, as células imunes e o epitélio funcional permitem que ele participe do processo de inflamação gastrointestinal (IG).
Os estudos sobre animais e a pesquisa observacional destacaram a importância da desregulação do SE na doença inflamatória intestinal (DII), como a Doença de Crohn (DC). Também elucidaram os benefícios obtidos com a suplementação de canabinoides, os quais atuaram como anti-inflamatórios.
Crohn e Cannabis
A cannabis é conhecida há muito tempo por seu valor terapêutico no tratamento de vários sintomas e doenças, muitos dos quais relacionados ao trato gastrointestinal. Os efeitos da planta são devidos a canabinoides que atuam como um suplemento externo e exercem um efeito inibitório em muitos processos metabólicos, como a supressão de náusea, regulação da motilidade intestinal, redução da contração muscular involuntária e no controle da acidez de secreções.
A ideia de que a cannabis pode combater a inflamação na DC decorre de experimentos pré-clínicos que investigaram o efeito da perda de receptores canabinoides, a atividade de antagonistas dos receptores de canabinoides (bloqueadores) e o efeito do número reduzido de endocanabinoides. Todos provocaram o aumento da atividade do sistema imunológico relacionada à inflamação gástrica.
Uma série de estudos pré-clínicos demonstraram os efeitos protetores da cannabis na inflamação intestinal.
- Embora se acredite que os receptores canabinoides “padrão” sejam exclusivamente os receptores CB1 e CB2, agora há evidências de que os canabinoides também podem interagir com outros receptores, como por exemplo o GPR55, responsável pela inflamação intestinal.
- A cannabis demonstrou ter efeito protetor contra a inflamação intestinal, pois atua como um inibidor desses importantes reguladores da inflamação intestinal.
- Os canabinoides ajudam a manter a integridade da barreira intestinal, tornando-a menos permeável a elementos estranhos.
A cannabis também mostrou sua eficácia em estudos clínicos; infelizmente, no entanto, a maioria deles é insignificante em termos estatísticos devido ao número pequeno de participantes.
- O primeiro estudo a investigar os efeitos diretos da cannabis na DC observou uma grande melhora em 21 dos 30 participantes: eles necessitaram de menos medicação específica para DC e o número de cirurgias durante os anos de tratamento com a cannabis foi reduzido drasticamente em comparação com o período anterior.
- Um segundo estudo mostrou uma significante melhora na qualidade de vida dos pacientes de DII que usaram cannabis durante o teste de 3 meses. Os pacientes relataram sentir menos dor e depressão, e mais bem-estar geral. Apresentaram também diminuição na atividade da doença.
- Um estudo foi realizado com o objetivo de comparar os efeitos de cannabis rica em THC versus uma cannabis sem THC no tratamento em pacientes com DC que não respondiam a tratamentos convencionais. Os resultados mostraram atividade reduzida da doença em ambos os grupos; no entanto, parte dos que utilizaram a cannabis rica em THC deixaram de lados esteroides e apresentaram remissão completa.
Crianças e Cannabis
Um artigo de 2019 publicado pela Associação Canadense de Gastroenterologia fez uma forte recomendação contra o uso de cannabis no tratamento da DC em casos pediátricos. Segundo especialistas, embora a cannabis esteja associada a vários benefícios no tratamento dessa doença, a evidência foi inconclusiva. Além disso, os riscos associados ao uso de cannabis durante a adolescência e seus efeitos sobre o cérebro em desenvolvimento superam o benefício potencial em crianças.
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